O JornalDentistry em 2017-6-09

ARTIGOS

“O DDF Porto 2017 pretende ser um espaço de partilha de conhecimentos entre as áreas que intervêm no tratamento de distrofias dentofaciais”

O Departamento de Cirurgia e Fisiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a organizar o “DDF Porto 2017– Dismorfias Dentofaciais, perspetivas ortodôntico-cirúrgicas”, a 30 de junho e 1 de julho de 2017, na instituição universitária. O Dr. Nuno Gil, presidente da comissão organizadora, desvenda pormenores do programa

Dr. Nuno Gil, presidente da comissão organizadora, e Dr. João Correia Pinto, presidente do congresso.

O JornalDentistry - Quais os objetivos deste congresso? 
Dr. Nuno Gil - Os objetivos prendem-se, em primeiro lugar, com a divulgação desta patologia. Procura-se também aumentar o conhecimento dos profissionais de saúde sobre este tema, bem como estimular a interdisciplinaridade entre eles. Em suma, o DDF Porto 2017 pretende ser um espaço de partilha de conhecimentos e construção de caminhos entre as várias áreas que intervêm no tratamento das dismorfias dentofaciais. Os médicos dentistas são dos profissionais mais envolvidos na abordagem destes problemas. Quanto mais bem informados estiverem, melhor poderão desenvolver o seu papel. 
O JornalDentistry - Qual o papel do médico dentista generalista no diagnóstico e encaminhamento das dismorfias dentofaciais? 
— Dr. Nuno Gil - Entre os vários grupos de profissionais envolvidos na saúde oro-maxilo-facial   onde se incluem o médico dentista, o médico especialista em cirurgia maxilofacial, cirurgia plástica, estomatologia, medicina física e reabilitação e otorrino- laringologia, e o terapeuta da fala verifica-se que aquele que tem um contacto de base populacional mais alargada é efetivamente o médico dentista, nomeadamente aquele que exerce uma atividade generalista. Tal constitui um fator de grande mais valia na educação da população, na identificação da patologia e no aconselhamento e orientação terapêutica do paciente.

No Serviço Nacional de Saúde (SNS) existem vários hospitais aptos a prestar os cuidados necessários a pacientes com dismorfias dentofaciais. Na prática, a referenciação a estes serviços deve ser realizada através dos cuidados de saúde primários, podendo o médico dentista que identifica o problema escrever uma carta ao médico de medicina geral e familiar com a informação clínica sumária, solicitando a referenciação hospitalar. Fora do SNS o mais sensato será a orientação do paciente para um profissional com conhecimentos amplos de ortodontia, seja médico dentista ou médico especialista em estomatologia, ou para um profis- sional com conhecimentos amplos em ortodontia cirúrgica, seja um médico especialista em cirurgia maxilofacial, estomatologia ou cirurgia plástica. 

O JornalDentistry - Esta é uma área de elevada multidisciplinaridade. Em Portugal existe uma integração verdadeira por parte de todos os profissionais envolvidos? 
— Dr. Nuno Gil - Mas mais do que multidisciplinaridade, está em causa uma interdisciplinaridade. É importante que cada grupo profissional partilhe conhecimentos e entre no campo de atuação dos outros grupos. Apenas através do conhecimento das dificuldades e soluções de ambos os grupos se consegue otimizar terapêuticas. Neste congresso a interdisciplinaridade está refletida no espetro de grupos profissionais que intervêm no programa científico, bem como naqueles a que se destina. Não existem muitas patologias onde tantos profissionais diferentes intervenham. 
Quanto ao grau de integração destes grupos profissionais na abordagem das dismorfias dentofaciais, é muito difícil conhecer com exatidão a realidade a nível nacional. Contudo existem centros onde essa integração é efetiva. No entanto, é sempre possível melhorar. Temos de procurar atingir o nível das referências mundiais na área, de que é exemplo o Dr. William Arnett, com quem teremos o privilégio de aprender no curso pré-congresso no dia 29. 
O JornalDentistry - Qual o papel da ortodontia e da implantologia no tratamento destes pacientes? 
— Dr. Nuno Gil - A ortodontia é absolutamente essencial no tratamento contemporâneo das dismorfias dentofaciais. Por um lado, permite tratamentos intercetivos, nomeadamente através da utilização de técnicas de ortopedia dentofacial, em casos selecionados. Paralelamente, apesar de nos primórdios da cirurgia ortognática não ser realizado qualquer tratamento ortodôntico, a verdade é que a ortodontia se tornou impres- cindível nestes casos já há muito tempo, de tal forma que pensar em tratar um caso de dismorfia dentofacial num adulto sem envolver técnicas ortodônticas é como pensar em tra- tar esse caso sem a própria cirurgia ortognática. Só em casos  muito específicos de síndrome de apneia e hipopneia obstrutiva do sono é que é aceitável prescindir da ortodontia. 
Já a implantologia é uma importante área de suporte, na medida em que alguns dos doentes que procuram tratamento para dismorfias dentofaciais perderam dentes, nomeadamente dos setores posteriores. Estes são essenciais, quer do ponto de vista ortodôntico, por exemplo pela ancoragem que permitem, quer do ponto de vista cirúrgico, pela estabilidade oclusal essencial na proteção do processo de cicatrização óssea a nível das ostetomias. Por outro lado, não é raro depararmo-nos com pacientes edêntulos ou com dentição termi- nal, que procuram reabilitação oral e em paralelo têm uma dismorfia dentofacial. Algumas destas situações carecem claramente da integração da reabilitação oral com a cirurgia ortognática. Naturalmente, partimos do pressuposto que a reabilitação implantossuportada é o gold standard para tra- tamento do indivíduo desdentado, parcial ou total, incluindo no contexto das dismorfias dentofaciais. 
A cavidade oral é o nosso centro psicossocial. O diagnóstico destas dismorfias tem de ter em conta a vertente emocional. O JornalDentistry - Qual a importância de gerir as expetativas desde o início e como abordar um eventual plano de tratamento junto destes pacientes, mesmo que provisório? 
— Dr. Nuno Gil - Este é um aspeto muitas vezes negligenciado, mas absolutamente essencial. Alguns pacientes têm expetativas irrealistas. Se tivermos em conta que o sucesso se mede em grande parte pelo alcance, ou não, dos objetivos propostos, facilmente percebemos que, num paciente que tem expetativas irrealistas, qualquer resultado está votado ao insucesso, pelo menos aos seus olhos. Neste contexto, incluem-se os indivíduos com alterações da perceção da imagem corpo- ral, aqueles que acreditam que a raiz de todos os seus problemas está na dismorfia dentofacial e que, nesse sentido, desaparecerão com esta, mas também aqueles que simplesmente têm expetativas estéticas inatingíveis. 
Por outro lado, estes tratamentos são longos e desgastantes para o paciente, levando invariavelmente a um agravamento de algumas caraterísticas faciais e oclusais durante a fase ortodôntica pré-cirúrgica. É, portanto, fundamental que o doente esteja motivado e ciente destas dificuldades, e que neste processo possa ser ajudado. Para tal, é essencial a realização de um diagnóstico correto e a construção de um plano de tratamento detalhado e bem transmitido ao paciente.

 

Artigo publicado na edição impressa e digital do "O JornalDentistry" de maio 2017

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