O JornalDentistry em 2016-10-12

CONVIDADOS

Os dentes de Pompeia

Foi Apuleio, escritor e filósofo romano, quem se referiu à boca como o vestíbulo da alma. Região anatómica do corpo por onde sai a palavra, principal manifestação da consciência, e onde se produz o último suspiro da vida.

Texto - Fenando Arroba, M.D Ilustração - Diogo Costa

Séculos mais tarde, Émile Zola acrescentou: “Dizei-me o que comes e eu te direi quem
és”. Com base nestes princípios, através de um trabalho de investigação inédito, foi possível reproduzirem-se os hábitos de vida dos habitantes de Pompeia,a famosa cidade romana que ficou devastada por uma inesperada erupção do vulcão no topo do monte Vesúvio no dia 24 de Agosto do ano 79 d.C..
 
Nesse dia e nos três seguintes, as cinzas e os vapores clorídricos que caíram sobre Pompeia cobriram os corpos das vítimas. Com o tempo, essa cobertura solidificou e, vinte séculos mais tarde, os corpos foram encontrados na mesma posição com as expressões dos seus últimos momentos. Curvados, estendidos, de costas ou com a cabeça virada para a terra, a cobrir o nariz ou a proteger a cabeça. Evidentemente, toda a matéria orgânica decompôs-se. No entanto, disso resultou um espaço oco no meio das rochas que preservou
os formatos dos corpos. Assim, através de uma equipa multidisciplinar, composta por radiologistas, arqueólogos, dentistas e antropologistas, esses espaços “vazios” foram preenchidos com gesso e realizadas tomografias 3D para preservar e estudar o formato exato dos corpos. De forma incrível, foram encontrados também restos do esqueleto e dos dentes, o que permitiu conhecer os detalhes das vidas, costumes, ocupação e classe social dos habitantes de Pompeia.
Alguns foram identificados como tocadores de flauta ou fumadores de cachimbo, mas a divulgação mais surpreendente foi a de que a maior parte dos indivíduos tinham praticamente todos os dentes e em estado são, fruto das águas fluoretadas daquela região italiana e devido a uma alimentação mediterrânea rica em fruta, vegetais e fibras, com baixo consumo de açúcar.
A história diz-nos que existem muitos aspetos deixados pelas civilizações antigas que se encontram incorporados no nosso quotidiano. Além da república, do direito civil, da arquitetura e do latim, Roma deixou-nos também outras heranças. Neste caso, um exemplo claro da importância de uma alimentação equilibrada e de dentes saudáveis, dois temas que ainda se §encontram longe de ser aplicados globalmente pelas populações dos nossos dias.

Texto: Fernando Arrobas, médico dentista - fernando.arrobas@jornaldentistry.pt

Ilustração: Diogo Costa  -  dcosta_4@msn.com

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