O JornalDentistry em 2016-11-24

CONVIDADOS

Os “Polémicos” Colares de Âmbar

As terapias naturais e complementares têm vindo a tornar-se populares. Tanto os profissionais de saúde como os consumidores cada vez procuram mais formas alternativas de cuidar da sua saúde.

Nos últimos anos, com ideias provenientes dos diferentes cantos do mundo, têm-se desenvolvido áreas de especial interesse e que merecem toda a atenção e respeito. Já Hipócrates, o pai da medicina ocidental, gostava de referir que “o homem é uma parte integral do cosmos e só a natureza pode tratar os seus males”.
Acontece, porém, que existem determinadas práticas que, quando não devidamente esclarecidas, podem conter sérios riscos. Com efeito, julgo que os profissionais de saúde devem estar informados sobre algumas soluções que o mercado disponibiliza para que não fiquem surpreendidos e sem resposta perante uma pergunta como “o que acha dos colares de âmbar para as crianças não terem dores na erupção dos primeiros dentes?”. Uma vez que isto me aconteceu em consulta e eu não sabia responder de forma adequada, decidi investigar e partilhar a minha revisão apurada sobre o assunto.
De facto, o âmbar é uma resina fóssil muito utilizada ao longo da história, por diversas tribos e civilizações, para a manufatura de objetos ornamentais e como terapia natural, ajudando na cura dos males do corpo através do balanço energético. No entanto, no que diz respeito aos colares e à suposta diminuição das dores na erupção do primeiros dentes, os promotores sugerem mesmo um mecanismo fisiológico de analgesia através da libertação de ácido succínico, que previne a inflamação gengival e as febres caraterísticas dessa situação.
A partir daí, bastou apenas a modelo Gisele Bündchen colocar o colar à sua pequena filha e a moda ficou instalada. A moda e o caos.
Em pouco tempo, iniciou-se uma guerra entre mães e médicos pediatras a este propósito. Na comunicação social e na blogosfera, multiplicaram-se as opiniões e as controvérsias. Por um lado, as mães falavam que a experiência resultara e, por outro, os médicos pediatras alertavam para a inexistência de qualquer evidência científica e sobre os sérios riscos de estrangulamento e asfixia, pois não é indicado crianças tão pequenas utilizarem este tipo de ornamentação.
Estranhamente, os médicos dentistas não foram chamados para esta discussão. Pena que tal não tenha acontecido. Até porque as dúvidas teriam sido facilmente desbloqueadas, muita “tinta” teria sido poupada e alguma informação preciosa devidamente partilhada.
É que, de acordo com as instruções dos vendedores e fabricantes, os colares de âmbar não se encontram indicados antes dos três anos de idade. Isto é, a sua utilização só é recomendada a partir de uma altura em que toda a dentição decídua já se encontra formada...

Fernando Arrobas, médico dentista
Ilustração: Diogo Costa | dcosta_4@msn.com

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