O JornalDentistry em 2017-11-28

ENTREVISTA

A Medicina Dentária Forense tem uma grande importância no contributo para a Justiça

A Medicina Dentária Forense é uma ciência que, em conjunto com a medicina legal, procura ajudar a identificar indivíduos que se encontrem em avançado estado cadavérico e desconhecidos, bem como as circunstâncias de morte.

Prof. Doutora Cristiana Palmela Pereira

A Prof. Doutora Cristiana Palmela Pereira, médica dentista forense, explica a O JornalDentistry quais os principais desafios desta importante área da medicina dentária 

O JornalDentistry - O que é a medicina dentária forense? 
Professora Dra. Cristiana Palmela Pereira - A medicina dentária forense é umas das ciências forenses. Ciência foren- se é a ciência que ajuda a lei, em qualquer que seja o campo de aplicação. Assim, a medicina dentária forense tem o objetivo final, independente da área do direito, de aplicação da legis artis à justiça. 

O JornalDentistry - Como começou esta área e para onde caminha? 
Professora Dra. Cristiana Palmela Pereira - Esta área, que é uma das três áreas médicas, em conjunto com a medicina legal e psiquiatria forense, começou de uma forma empírica há muitos anos com a identificação de cadáveres devido a um incêndio. Contudo, enquanto ciência, e com aplicação forense, é muito recente. Das três ciências forenses médicas, a medicina dentária forense é a que nos últimos anos tem caminhado com uma grande velocidade, pois é a que tem mais evoluído. Hoje em dia temos normas internacionais que nos guiam na nossa prática pericial. 

O JornalDentistry - Quais as áreas de atuação? 
Professora Dra. Cristiana Palmela Pereira - A medicina dentária forense tem diferentes campos de intervenção. Na área da patologia forense, começa pelo exame do cadáver no local, autópsia médico-legal oral em que os objetivos são a identificação médico-legal (em casos individuais e em casos de situações de desastres de massa), traçar o perfil post mortem, estimar a idade à morte e identificar as circunstâncias da morte para o estabelecimento da etiologia médico-legal da morte. Na área de clínica forense, a medicina dentária forense tem aplicações na estimativa médico-legal da idade em indivíduos vivos (a nível penal e de pedidos de asilo em indivíduos indocumentados), marcas de mordedura e intervenção na avaliação do dano corporal oral pós-traumático (na área do direito civil, penal e trabalho). A medicina dentária forense não é apenas uma disciplina autónoma e polivalente, mas também tem relações com as demais ciências forenses e atualmente tem uma grande importância no contributo para a realização da Justiça. 

O JornalDentistry - Existem muitos médicos dentistas com esta especialidade? Quais os programas de pós-graduação e as saídas profissionais? 
Professora Dra. Cristiana Palmela Pereira - Em Portugal, para realizarmos a nossa atividade pericial ao nível  da medicina dentária forense e de acordo com a Lei das Perícias n.o 45/2004, temos que a realizar em relação direta com o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses- INMLCF. A formação pós-graduada em Portugal ainda não existe. Mas está dentro dos meus projetos futuros poder dar lugar a uma sustentação sólida para iniciar a formação no âmbito de uma pós-graduação. A medicina dentária forense é uma área que está em crescimento, tanto a nível de especialidade como de número de profissionais. As saídas profissionais podem passar também pela prática pericial em companhias de seguros na avaliação do dano oral pós-traumático. 

O JornalDentistry - Quais os principais desafios com os quais um médico dentista forense se depara? 
Professora Dra. Cristiana Palmela Pereira - O maior desafio nesta área é o tempo. O outro desafio é o ser humano e os seus comportamentos. Porque lutamos contra o tempo e trabalhamos com seres humanos (sejam ou não os presumíveis agressores, as vítimas e os familiares).

O JornalDentistry - Numa perspetiva multidisciplinar, com que outro tipo de profissionais colabora? 
Professora Dra. Cristiana Palmela Pereira - Numa investigação criminal, trabalhamos em conjunto com as várias áreas do Laboratório de Polícia Científica da Policia Judiciária; numa autópsia médico-legal trabalha- mos em conjunto com o médico legista. Numa estimativa da idade num indivíduo vivo e indocumentado, trabalhamos em conjunto com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras– SEF. Dependendo da área pericial/ legal/forense, trabalhamos numa equipa multidisciplinar. 
Que histórias, testemunhos, pode partilhar com os nossos leitores, médicos dentistas? 
São muitas situações. Algumas são felizes outras, pelo contrário, são muito infelizes. Mas, no final, todas têm resultados positivos, o que me faz sentir muito realizada. Ao longo destes anos, só não consegui identificar um cadáver, porque não surgiu nenhum desaparecido compatível com o mesmo. Estas situações são as que não queremos ter. 

Esta entrevista foi publicada no "O JornalDentistry" edição de novembro de 2017 em versão impressa e digital
www.jornaldentistry.pt/edicoes/ojd-45-novembro-2017

 

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