O JornalDentistry em 2018-12-24

CRÓNICAS

AstroTurfing na saúde ou lobo com pele de cordeiro

Astroturfing* é a prática de mascarar os patrocinadores de uma mensagem ou organização (ex: política, publicitária, religiosa ou de relações públicas) com o intuito de fazer parecer que essas mensagens têm origem ou são apoiadas apenas por membros de movimentos populares espontâneos da sociedade, estes também conhecidos em inglês por grassroots.

Dr. Orlando Monteiro da Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas

É uma ação que visa dar credibilidade a declarações ou organizações sem, no entanto, fornecer informações a respeito da conexão financeira da sua fonte. 

O termo astroturfing deriva de AstroTurf, uma marca de relva sintética projetada para dar a aparência de um relvado natural. É um trocadilho com a palavra da língua inglesa “grassroots” que, em português, é traduzida literalmente como “raízes da relva” e que significa movimentos espontâneos de uma comunidade. A implicação por trás do uso do termo astroturfing é que não existem movimentos grassroots “verdadeiros” ou “falsos”, mas sim de apoio “falso” ou “artificial”, ainda que alguns dos seus praticantes defendam a sua prática. 

Alguns estudos sugerem que esta atividade é capaz de alterar a maneira de pensar do público e de criar dúvidas o suficiente para inibir ações.

(*Fonte Wikiédia, adaptado )

Na saúde existem, também, práticas deste género a que todos devem estar atentos, patrocinadas por alguma indústria, grupos de interesse, organizações não governamentais, consórcios, associações e seguradoras, etc. 

Todos deveremos estar atentos a movimentos mais ou menos organizados, por vezes com camuflagem de espontaneidade, ou de indignação, ou de apoio a determinadas mensagens. Muitos deles, quando convenientemente analisados, mais não são do que a promoção, com total falta de transparência, de interesses por parte dos seus mentores, frequentemente não identificados. 

Este tipo de prática tem vindo a disseminar-se e difere das chamadas fakenews, ou notícias falsas, por revestir frequentemente a aparência de defesa de causas, técnicas, intervenções sibilinas, com aparência de espontaneidade. Difere também do lobby, pois este é, no seu formato legal de outros países, registado e com declaração de interesses. 

Nada mais fácil que, como por exemplo, alguns perfis falsos nas redes sociais ou de organizações que professam determinadas causas aparentemente nobres, se promoverem interesses comerciais, pseudopolíticos, financeiros ou outros, insuflando vagas de apoio ou de revolta em quem de forma crédula, ou sem análise crítica, delas toma conhecimento. 

A Internet, as redes sociais, são naturalmente a ferramenta ideal para este tipo de prática a que todos devemos estar atentos. Mais que nunca, a transparência, credibilidade e seriedade das fontes é hoje essencial. 

“Pouco ego é um desperdício apenas pessoal, mas demasiado ego é desperdiçar a vida dos que nos rodeiam”. (Anónimo). 

Há por vezes a tentação de opinar sem uma ação consistente. Ora, se é prejudicial lançar dilemas genéricos e populistas sem uma base real de legitimidade, mais grave se torna o ímpeto questionador quando se conhece a verdade, a natureza e a legitimidade decisória dos assuntos. Certo é que assistimos por toda a Europa e espaçadamente em Portugal ao que se adivinha como uma nova forma de auto-mutilação da credibilidade opinativa. O que poderíamos por analogia designar de um self astroturfing... com as devidas adaptações.

Autor: Dr. Orlando Monteiro da Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas

www.omd.pt

 

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