JornalDentistry em 2022-12-17

CONVIDADOS

O ensino da Medicina Dentária em Portugal fez este ano o seu quadragésimo sexto aniversário

Estamos todos de parabéns, sobretudo porque soubemos durante este tempo colocar a profissão e a arte do Médico Dentista Português no mais alto patamar de reconhecimento internacional, sendo aceite como uma das melhores do mundo.

Médico Dentista, Presidente do SMD, Professor do Ensino Superior e Membro da CGS da ADSE.

O aperfeiçoamento dos saberes e da experiência dos profissionais, que na sua prática habilmente preveniram e trataram as doenças da cavidade oral dos Portugueses que a eles recorriam, rapidamente tiveram eco em vários países. Foram vários os colegas que com a sua mestria souberam demonstrar entre os seus congéneres o que de muito bom se fazia e ensinava. 

Contudo, essa distinção não tem repercussão no nosso próprio País.
No panorama nacional, e em analogia com uma peça teatral, somos meros figurantes. 

No século XVIII, as classes profissionais médicas, refletindo a sua importância no estrato social Português, estavam categorizadas de forma decrescente de percepção pública em: médicos, algebristas, sangradores, parteiras, arrancadores de dentes e cirurgiões herniários. 

Hodiernamente, o que mudou foram as designações e o facto de terem surgido outras profissões de saúde que, não querendo retirar a sua nobreza, nos ultrapassaram. 

Constata-se o paradigma secular confirmador e revelador do desinteresse pela saúde oral dos portugueses por parte dos seus governantes com reflexo societário na condição humana dos demais, pela inexistência duma verdadeira inclusão dos médicos dentistas no Sistema Nacional de Saúde. 

Fazendo uma análise introspectiva, foi provavelmente graças às características próprias da nossa profissão e da atitude displicente, maledicente entre pares, narcisista e pretensiosa que transmitimos para os nossos concidadãos enquanto classe profissional, que paulatinamente nos transformou num grupo de profissionais com pouca influência na sociedade portuguesa, com problemas e importâncias desconhecidas dos decisores políticos e considerados como uma profissão que, dentro das profissões médicas, seria pouco relevante e mal cotada. 

Sobretudo na última década, a nossa classe entrou numa espiral negativa, fruto do excessivo número de profissionais exis- tentes. Somos um comboio desgovernado onde os maquinistas que o dirigem e os passageiros que nele já viajam, em vez de se preocuparem com o futuro, aceleram ainda mais de forma a atropelarem os que tentam entrar, sem se perceberem, ou sem quererem perceber, que o final da viagem é um muro de cimento armado. 

É necessário que quem é responsável pelas várias faculdades que ministram o mestrado em medicina dentária percebam que já não existe nenhuma galinha dos ovos de ouro. É preciso que, com desapegado interesse, deixem de olhar só para as suas carreiras docentes e adeqúem o ensino ao pós-grado sob pena de, com demasiadas canjas, deixar mesmo de haver uma galinha. 

Todos nós, médicos dentistas, sabemos que o caminho que atualmente percorremos não é o correcto nem verdadeiro mas, não basta saber, é também preciso demonstrar. Irmos para as redes sociais e grupos internos falar que isto e aquilo está mal e esperar que algo mude não é suficiente. Urge alterar as sensibilidades e o modo como os portugueses nos vêem. 

A meu ver, isto só se consegue quando conseguirmos que a nossa classe profissional esteja representada nos mais variados organismos nacionais de relevo para a saúde. 

Recentemente consegui, com a ajuda duma equipa extraordinária, um lugar de representação no Conselho Geral e de Supervisão da ADSE. 

É de extrema importância para o Sindicato dos Médicos Dentistas que presido e para toda uma classe profissional poder ter um médico dentista numa instituição que, das mais variadas formas, influencia o modo como a medicina dentária é vista e tratada em Portugal. 

Não é fácil mudar concepções enraizadas amplamente complexas devido à deficiente literacia em saúde oral. Para isso temos que nos expor e tornar públicos.
Para bem dos médicos dentistas, para bem dos portugueses e para bem da saúde oral em Portugal. 

 

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OJD 116 ABRIL 2024

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