O JornalDentistry em 2018-10-16

CRÓNICAS

Evolução Tecnológica e os Desafios da Profissão

As tecnologias da informação têm dominado a evolução da ciência nos últimos anos. De uma forma gradual e exponencial, a informática tem assumido um papel cada vez mais determinante em todas as vertentes da nossa vida.

Paulo Ribeiro de Melo, presidente da Mesa do Conselho Geral da Ordem dos Médicos Dentistas

Em três ou quatro décadas, a nossa forma de estar, de relacionar, de comunicar, de investigar, de ensinar e de trabalhar, entre outras atividades, mudou radicalmente.

Nos anos 70 ou 80 do século passado, as inovações em diferentes áreas ocorriam muito espaçadamente, com a possibilidade de serem assimiladas em 5 a 10 anos, pois a inovação seguinte só apareceria após esse tempo. Foi só a partir da década de 90 que a frequência de inovações começou a aumentar exponencialmente até chegar à realidade atual. E aquilo que se vai constatando é que essas mudanças, fruto da evolução das tecnologias da informação, estão a acontecer a uma velocidade

vertiginosa. Ou seja, estamos a conviver com o futuro quase diariamente.

Ao mesmo tempo, a capacidade de resposta a estes desafios diários é muito diferente de estrato etário para estrato etário. Por exemplo, as crianças até aos 10 anos parecem já ter o “chip” integrado e a forma como interagem com os dispositivos é natural e intuitiva, sem grandes dificuldades, com uma destreza inigualável. Podemos mesmo dizer que esta geração será a que mais facilmente acompanhará toda a evolução que se adivinha.

Na faixa etária dos 11 até aos 25 anos, daqueles que “nasceram” no mundo das tecnologias da informação, a facilidade para acompanhar estas mudanças e desafios parece ainda maior. Para eles sempre foi assim e, portanto, estão habituados a este frenesim de novidades constantes, acompanhadas por terminologia nova que é integrada no léxico português com grande simplicidade.

O acesso à informação é feito todo “online” e a capacidade de se moverem na Web é simplesmente fantástica. Só a falta de acesso a dispositivos de tecnologia informática na primeira infância os impede de estarem como “peixe na água”.

Um outro grupo etário, dos 26 aos 40 anos, consegue ter uma grande interatividade com estas tecnologias, mas a adaptação já está um pouco mais dificultada pelo facto de não terem “nascido” com a grande evolução das tecnologias da informação. E então já se começaa verificar uma diferença na capacidade de abordagem e assimilação destas evoluções entre indivíduos do mesmo grupo etário.

Há uns mais capacitados e outros mais limitados. Dos 41 aos 55 anos temos um outro grupo que aderiu às tecnologias de informação na medida das suas necessidades. Neste caso, utilizam a tecnologia necessária, mas existe muito pouca disponibilidade para assimilar tudo o que vai acontecendo. Aqui, a diferença na capacidade de abordagem e assimilação destas evoluções ainda é mais evidente entre indivíduos do mesmo grupo etário.

Dos 55 anos em diante a disparidade é tão grande que se torna difícil descrever este grupo.

A grande maioria apresenta limitações significativas para lidar com as tecnologias da informação e com as evoluções que vão acontecendo.

Este exercício de reflexão acerca das capacidades para gerir a evolução das tecnologias da informação pelos diferentes grupos etários é meramente resultante de uma perspetiva pessoal e tem o propósito de servir de base para a exposição seguinte.

Não há duvida nenhuma que o grande desafio dos próximos anos será a gestão da evolução exponencial que vai interferir ainda mais com a nossa forma de estar, de relacionar, de comunicar, de investigar, ensinar e trabalhar, entre outras atividades. O choque entre regras ou leis e a realidade é já latente e só não se apercebe deste paradigma quem não quer ver.

Um exemplo concreto muito recente é a lei de proteção de dados. Efetivamente estão a ser criados regulamentos e normas de utilização de dados, cuja ideia subjacente é muito louvável, mas o resultado final pode ser questionável.

Por um lado, estamos extremamente preocupados com a disponibilização de dados pessoais por terceiros, quando, por outro, milhões de pessoas expõem-se diariamente nas redes sociais, desvendando muito mais do que os seus dados pessoais. Ou então sabemos que através da Web, e com grande facilidade, determinados especialistas conseguem penetrar em redes informáticas superprotegidas e retirar/alterar informações de confidencialidade extrema.

Mas o que se antevê mais preocupante é como vai ser possível, num futuro muito próximo, gerir estas discrepâncias na capacidade de assimilação da evolução baseada nas tecnologias da comunicação por parte das diferentes gerações e utilizá-las corretamente.

No ensino, na profissão e em toda a área da saúde, os desafios vão suceder-se. Por exemplo, no ensino, num futuro muito próximo, vamos estar confrontados com o desafio de ter docentes (pessoas de gerações mais velhas) a terem de disponibilizar ferramentas para desenvolvimento do conhecimento aos mais novos, quando estes docentes não estão suficientemente integrados nas reais potencialidades que a era informática trouxe.

Já existe o e-Learning e muito provavelmente as aulas magistrais, teóricas, terão os seus dias contados, mas muito mais alterações estão a acontecer e muitas mais surgirão. Na área da medicina dentária já temos os simuladores para as atividades efetuadas na pré-clínica hábastante tempo, mas de custo ainda elevado.

Muito provavelmente em poucos anos será possível aceder a um software que pode ser utilizado individualmente em qualquer local e que permita realizar esses mesmos procedimentos pré-clínicos.

Outra área bastante sensível é a da profissão de médico dentista, aliás todas as áreas da saúde estão confrontadas com este problema. Com as novas tecnologias, em que as máquinas fazem quase tudo, haverá uma tendência para delegar procedimentos a pessoas menos qualificadas.

É precisamente este um dos maiores riscos da profissão e serão os próprios profissionais (principalmente aqueles com menos aptidões para as tecnologias da comunicação) que poderão comprometer a autonomia e independência da profissão ao levianamente delegaratividades próprias da profissão a pessoas não qualificadas.

Por isso, estes serão tempos em que teremos de apostar num ensino inovador e de vanguarda, sem descurar a independência e salvaguarda das competências da profissão, alertando  para a necessidade de saber diferenciar as áreas da saúde das outras.

 

— Artigo publicado na edição de outubro do “O JornalDentistry” em versão impressa e digital

 

 

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