O JornalDentistry em 2020-10-28

CRÓNICAS

O sorriso B1 de Donald Trump

A campanha para as eleições presidenciais norte americanas está no ar. No próximo dia 3 de novembro será decidido o presidente para o mandato 2020-2024.

Fernando Arrobas,
médico dentista, Professor de Métodos Quantitativos

Após as eleições primárias, a disputa resume-se entre Donald Trump pelo partido republicano ou Joe Biden, o candidato democrata que foi vice-presidente de Obama. 
Como superpotência e um dos países mais influentes do mundo, é natural que o resultado das eleições nos Estados Unidos tenha um efeito profundo sobre a economia e a política dos mais diferentes países, onde se inclui Portugal. Na verdade, para quem se habituou a admirar o papel dos Estados Unidos na defesa dos valores da democracia, este é um momento de grande desilusão. Tanto de um lado como do outro, os discursos têm sido populistas, com pouca substância e repletos de momentos de falta de cortesia e educação. 

Contudo, há um momento que, para já, marca esta campanha. No NBC Town Hall com Donald Trump, a desconhecida Paulette Dale introduziu a sua pergunta com um rasgado elogio ao sorriso do atual presidente. “I have to say, you have a great smile”, disse ela. “You’re so handsome when you smile”, insistiu. É claro que, com a sua enorme vaidade, as câmaras focaram Donald Trump a reagir de forma instintiva, “cheio de si”, enquanto esboçava o seu sorriso de coroas cerâmicas B1. O que Trump não percebeu é que Paulette Dale estava a adaptar a citação de um musical-rap de Lin-Manuel Miranda, compositor da Broadway de ascendência porto-riquenha, que conta a história de Alexander Hamilton, um dos founding fathers do país. 
Logo no primeiro ato do musical, Hamilton pede a Aaron Burr, terceiro vice-presidente de Thomas Jefferson, que se torne o seu mentor e que o ajude a fazer parte da Revolução Americana. Apesar de historicamente acabar por ser o responsável pela morte de Hamilton num duelo, Burr oferece-se desde cedo para lhe dar um conselho simples e gratuito: “Talk less, smile more”, no sentido de que apenas os “tolos” falam demais e que a consciência social nos deve obrigar a dar aos outros uma oportunidade de se fazerem ouvir. 
A verdade é que esta associação entre a pergunta de Paulette Dale e o musical de Hamilton se tornou imediatamente viral nas redes sociais. Em entrevista ao Miami New Times horas mais tarde, Paulette Dale confirmou que era mesmo essa a sua intenção e que Donald Trump era um claro exemplo dessa alegoria. “I wish he would smile more and talk less” afirmou. Reforçou ainda que, apesar de ser filiada no partido republicano, irá votar Joe Biden nas próximas eleições. 
De facto, esta pequena frase tem o máximo sentido no tempo em que vivemos. Por um lado, “Talk less” porque estamos a viver com demasia- do ruído. Soundbytes constantes, discursos polarizados, fake news e crítica pouco construtiva. Todos falam, todos divagam e ninguém se escuta. Como refere o ditado, temos uma boca e dois ouvidos e raramente nos comportamos proporcionalmente. Por outro lado, “Smile more”. O mundo é, por vezes, demasiado sério e sorrir ajuda a vencer as barreiras da comunicação, a criar melhores relações e a tomar decisões numa perspetiva em que todos podem ganhar. 
O médico dentista que colocou as próteses fixas a Donald Trump deve estar orgulhoso do seu trabalho, ao ponto de ter sido elogiado em plena televisão nacional. Ainda assim, nunca é demais fazer notar que a estética vale pouco quando não é acompanhada pela consciência, pelo bom senso e pela moralidade 

Autor da Crónica: Fernando Arrobas, médico dentista, Professor de Métodos Quantitativos fernando   —    arrobas@jornaldentistry.pt 

 

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