JornalDentistry em 2024-3-15

CRÓNICAS

A Importância do Paciente Ideal na Medicina Dentária: uma outra visão

Este mês decidi convidar à nossa rubrica o Dr. Miguel Stanley, médico dentista com mais de 25 anos de experiência e diretor clínico de uma das clínicas mais avançadas e atualmente bem-sucedidas do país e do mundo.

Dra. Ana Paz, médica dentista, White Clinic, Lisboa - Dr. Miguel Stanley, médico dentista, White Clinic, Lisboa

Existem certos tipos de pacientes que podem chegar a ser um dos elementos causadores de stress no nosso dia-a-dia. Foi então que perguntei ao Dr. Miguel o que considera a White clinic um paciente ideal.   Dra. Ana Paz
 

Dr. Miguel Stanley

a medicina dentária moderna, marcada por uma intensa competitividade entre profissionais, observa-se uma tendência para se focar na aceitação por parte do paciente. Contudo, existem clínicas com uma abordagem diferenciada que tem vindo a ganhar destaque, que podemos exemplificar com a estratégia que é aplicada na White Clinic desde o primeiro dia, há 24 anos.

Esta estratégia salienta a importância de selecionar o paciente que valoriza o nosso trabalho, alinhando boas práticas clínicas e empresariais com o bem-estar mental e a harmonia no local de trabalho.
A medicina dentária confronta-se com o desafio de manter a saúde oral, um componente essencial do bem-estar geral, lidando com pacientes de necessidades variadas e complexas. Neste contexto, a natureza do paciente assume um papel crucial nos resultados bem-sucedidos dos tratamentos. Todos nós já tivemos complicações por que o paciente não seguiu as nossas recomendações ou falhou a consultas importantes.

Torna-se evidente que nem todas as pessoas se encaixam no perfil ideal de ‘bom paciente’. Esta constatação estende-se para além das condições de saúde, abrangendo dimensões financeiras, emocionais e comportamentais. Se não tivermos profundamente atentos a toda a conjuntura de um paciente, e não apenas à condição clínica, podemos eventualmente deixar entrar alguém que procura trazer-nos problemas. É algo já bem estudado que pacientes complicados podem destruir a moral de qualquer clínica, para não mencionar os prejuízos económicos.

Um ‘bom paciente’ não é apenas aquele financeiramente capaz e com vontade de ser tratado, mas também emocionalmente cooperante e respeitoso. A seleção criteriosa de pacientes envolve medidas como excluir tratamentos cirúrgicos a pacientes fumadores também. Muitas vezes a nossa primeira consulta não serve para vender o tratamento, mas sim entrevis- tar a pessoa para entender quais são as expectativas, a lingua- gem, a atitude e o “mindset”.

Gostamos, inclusive, de discutir todas as complicações pos- síveis para ver a reação do paciente porque, naturalmente, o que procuramos é alguém que entende todas as vicissitudes da nossa profissão e o fracasso está sempre presente em tudo o que fazemos. Como tal, temos de trabalhar juntos nas soluções. Pessoas complicadas tornam todo o processo difícil.
Tais critérios visam formar uma clientela mais propensa a aderir aos planos de tratamento e a contribuir para um ambiente agradável na clínica. Portanto é perfeitamente aceitável que um clínico em prática privada possa optar por recomendar ao paciente outra clínica, porventura com mais capacidade para lidar com estes casos complexos. Seguramente há sempre alguém com vontade de aceitar casos mais difíceis.
Esta abordagem traz múltiplos benefícios. Em primeiro lugar, cria um ambiente menos stressante para a equipa e os pacientes. O stress, conhecido por deteriorar a saúde, incluindo a oral, é minimizado, melhorando assim a qualidade do cuidado e o bem-estar da equipa.

Pacientes cooperantes e aderentes aos tratamentos tendem a alcançar melhores resultados, elevando a reputação da clínica, e acabam por criar muito melhor ambiente para todos.
A estabilidade financeira também é um aspeto de grande importância. Os tratamentos podem ser dispendiosos e a capacidade do paciente para suportar os custos é um aspeto crítico. Muitos pacientes que dependem da seguradora para cobrir as suas despesas ficam frustrados quando lhes é negado o melhor tratamento possível. Por isso, desde 1999, a White Clinic não trabalha com seguradoras.

Procuramos oferecer apenas e exclusivamente o melhor tratamento para o diagnóstico completo efetuado. Este conceito de “full mouth” está patente na filosofia “No Half Smiles”, partilhada em centenas de palestras ao longo das últimas décadas e muito bem aceite nos Estados Unidos.

Embora possa parecer restritivo, este critério permite que a clínica mantenha elevados padrões clínicas e de serviço de atendimento sem as limitações impostas pelas seguradoras.

A compatibilidade emocional e comportamental é fundamental. Procedimentos invasivos e stressantes na medicina dentária requerem pacientes colaborantes e respeitosos. Isso assegura não apenas a eficácia do tratamento, mas também um ambiente de trabalho positivo e eficiente.
A medicina dentária beneficia, assim, de uma relação simbiótica entre médicos dentistas e pacientes. Enquanto a competência técnica é fundamental, a atitude e comportamento do paciente são igualmente decisivos para o sucesso dos tratamentos. Adotar uma filosofia de seleção de pacientes, baseada num conjunto amplo de critérios, pode ser uma estratégia valiosa para práticas que ambicionam um cuidado de alta qualidade e um ambiente de trabalho harmonioso.
Esta tendência para a personalização do tratamento e o reforço da relação entre o profissional e o paciente está a crescer na área da saúde. Num mundo onde a experiência do paciente é altamente valorizada, a seleção cuidadosa pode melhorar não apenas os resultados clínicos, mas também reforçar a imagem da clínica como um espaço de atendimento dedicado e de qualidade.
A estratégia de selecionar cuidadosamente os pacientes ser- ve como um lembrete de que a qualidade na medicina dentária não se resume apenas a habilidades técnicas e equipamentos de ponta, mas também na construção de relações sólidas e res- peitosas. Este foco, alinhado com um cuidado compassivo, pode ser a chave para transformar a prática da medicina dentária, priorizando o bem-estar tanto dos pacientes, como da equipa, promovendo um ambiente de trabalho positivo e sustentável.

 

 

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