JornalDentistry em 2025-5-19
Para mim, o mês de maio sempre foi o mês dos sentimentos. É quando a primavera desponta e o sol desperta. O mês em que nasceu a minha mãe e a minha filha
Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia.
Somos máquinas, já sabemos. Cada vez mais autónomos na sobrevivência do dia-a-dia, e autómatos nas decisões que tomamos.
Arriscamos menos porque a coragem dá muito trabalho, e a zona de conforto cria a entropia que o cérebro anseia para prolongar a homeostasia da máquina.
James Sexton, um advogado americano especializado há 25 anos em divórcios e acordos pré-nupciais, dizia esta semana no podcast do neurocientista Huberman Lab que “somos máquinas de sentimentos que às vezes pensam e não máquinas pensantes que às vezes sentem”. E com esta reflexão, percebi mais claramente a diferença que sempre haverámentre nós humanos e a inteligência artificial. Mas, mais do que perceber esta antecipação do futuro, senti que era exatamente este o sentido das coisas e da evolução.
Há quem diga que quando pensamos muito, refletimos, buscamos saber, sentimos mais e mais profundamente. Sentimos mais propósito, mais necessidade de partilhar o que aprendemos em benefício, primeiro dos nossos, e depois de todos. A máquina pensante que somos evolui, sentindo mais.
As máquinas de geração de inteligência artificial que já fomos capazes de criar, evoluirão pensando mais, nunca sentindo mais profundamente. E aqui estará sempre uma diferença essencial para o desempate nas decisões. Todos sabemos que as decisões mais importantes, são tomadas com o coração. O interessante é que o coração tem umsistema nervoso próprio, com neurónios que comunicam entre si e com o sistema nervoso autónomo, inclusive com o intestino. Podemos mesmo dizer que o coração tem neurónios que pensam e que, por isso, sentimos muitas vezes as decisões que tomamos.
Este “gut feeling” ou “pensar com o coração” que muitas vezes atribuímos à sensação física do pensamento certo, ou daquele que mais faz sentido para nós naquele momento e naquelas circunstâncias, será sempre o que nos distinguirá das máquinas artificialmente inteligentes. Ensinar uma máquina a pensar já é uma realidade. A máquina já processa mais dados e mais rapidamente do que nós. Mas não necessariamente melhor. Para pensar melhor é preciso sentir mais. E isso duvido que, este progresso alucinante do digital, alguma vez consiga. Vivemos numa “meta-realidade”.
Uma realidade para além dos ecrãs, que nos interpelam constantemente à comparação com o que os outros são ou têm. Já somos mais máquinas pensantes que às vezes sentem, do que máquinas de sentimentos queàs vezes pensam. Mas quando vem um apagão de energia elétrica qu reduz a zero a inteligência artificial disponível, ativa-se a outra energia elétrica que nos move. A dos impulsos elétricos da rede neuronal cardíaca.
Voltamos a sentir profundamente as prioridades da nossa existência: Eu e os meus estamos seguros? Temos o que comer e beber? Onde dormir?
Penso mesmo, que a prova de que somos máquinas de sentimentos que às vezes pensam e não o contrário, chegou neste mês de maio com o conclave. Assim que vimos à janela, o novo Papa Leão XIV, o que pensamos foi o resultado da análise profunda do que ele nos fez sentir. Gosto do seu sorriso.
Da energia elétrica que a rede neuronal do seu coração faz chegar até nós. E como médica dentista, gosto de sentir que vale a pena fazer a diferença na forma como muitos pacientes se sentem. Muitos mais do que às vezes pensamos!
Célia Coutinho Alves, Médica Dentista Especialista em Periodontologia
pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela
Universidade Santiago de Compostela