O JornalDentistry em 2015-11-24

ENTREVISTA

“O sorriso cumpre sempre uma função integrava"

José Machado Pais é licenciado em Economia e doutorado em Sociologia, sendo Investigador Coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Professor Catedrático Convidado do ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa.

José Machado Pais“O SORRISO CUMPRE SEMPRE UMA FUNÇÃO INTEGRATIVA”

O sociólogo, com mais de 40 livros publicados, explica-nos que múltiplos papéis desempenha o sorriso na sociedade.

O JornalDentistry – Qual a importância do sorriso na construção da imagem sociológica de cada pessoa?
Prof. José Machado Pais – O s orriso é um i nstrumento de gestão da identidade pessoal e até social. Por exemplo, os chineses tendem a sorrir bastante, daí a
tipificação do sorriso amarelo. Na verdade, o sorriso encontra-se investido
de uma enorme carga simbólica ao ser jogado na teatralização da existência quotidiana. Numa pesquisa recente constatei que muitas alcunhas têm raiz fisionómica. Os dentes suscitam de mula por os ter salientes. Desgostado, recorreu a serviços de medicina dentária. O tratamento resultou e, embora a alcunha não o abandonasse, a imagem de si melhorou.
Até que ponto o sorriso influencia o modo como aceitamos ou rejeitamos outra pessoa, tanto a nível profissional como pessoal?
O sorriso é um sinal de simpatia, uma expressão facial de aceitação social. Aliás, o sorriso cumpre sempre uma função integrativa, mesmo quando, sarcasticamente, evolui para o riso punitivo. Por exemplo, alguém que, por distração, circula com a braguilha aberta, ou com sapatos diferentes, pode provocar risos. Esse riso é um apelo às regras do jogo social, uma denúncia de comportamentos que infringem códigos sociais. Quem se ri de alguém, por ter infringido esses códigos, está a castigá-lo com uma das coimas mais severas da humilhação: a multa do ridículo.
O aspecto socioeconómico é oque predomina na conotação social do sorriso?
No seu conhecido tratado sobre o riso, Bergson mostra que no fundo do risível o que encontramos são significações   sociais. Então, como Balzac, poderíamos sentenciar: “diz-mecomo andas, ou como sorris, e dir-te-ei quem és”. O utrora, associada ao status social. As classes superiores tendiam a sorrir com discrição. Em contrapartida, as camadaspopulares pulam rapidamente do sorriso para o riso desbragado, expressão da espontaneidade que as caracteriza. Ou seja, o sorriso pode ser um sinal de d emarcação social. No entanto, o riso, como acontece no carnaval, permite também uma abolição provisória das relações hierárquicas, dos tabus.
Do ponto de vista da imagem, que traços valorizamos mais, na sociedade ocidental, e em que “lugar” surge o sorriso?
Há tempos coordenei um Inquérito sobre práticas culturais.
Numa pergunta questionavam-se caraterísticas de uma mulher e de um homem interessantes. O aspeto físico e a inteligência foram de longe os atributos mais valorizados.
Infelizmente não trabalhámos nenhum indicador sobre a relevância do sorriso na imagem corporal. Porém, outros indicadores, igualmente valorizados, indiciavam as sua presença: o charme, o espírito de humor, a capacidade de seduzir, a expressão do olhar e da boca... Mas Rui Veloso dá-nos uma boa achega na sua música sobre o brilho dentário:
“Olá, tu aí a sorrir / Diz-me quem é o teu dentista / Eu nunca vi sorriso assim / Nem em capa de revista”...

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