O JornalDentistry em 2019-3-12

EDITORIAL

Os diferentes contornos das Fake News na saúde

Ainda na sequência do editorial do mês passado e de como os pacientes que nos procuram buscam cada vez mais informação através das redes sociais, blogues, sites, etc, tenho agora que acrescentar – documentários.

Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia e diretora do "O JornalDentistry"

É verdade que a Netflix está em grande na produção, divulgação
e criação de entretenimento. Eles já aprenderam a “mexer” connosco e
quais os temas e formas de chegar até nós eficazmente. Não chega só chegar,
há que envolver, para prender e fazer mudar comportamentos para
influenciar.
Este poder pode ser usado para o bem ou para o mal, como em tudo na
vida. Tudo depende de que comportamentos queremos mudar. Quando o
comportamento está errado baseado no desconhecimento, porque interfere
com a liberdade do outro, porque promove violência, atenta à tolerância
e ao respeito duma sociedade livre e justa, esse comportamento
pode fazer sentido que se mude, se promova a reflexão para a mudança.
Já se o comportamento que se tenta influenciar é o baseado em “fake
news” que pelo poder de divulgação destes canais de entretenimento
generalizados rapidamente se tornam “virais”, rapidamente nos deparamos
com uma bola de neve difícil de travar.
Refiro-me a um documentário polémico disponível na Netflix intitulado
“Root Cause” que aparece abusiva e irresponsavelmente associando a
ideia de que os tratamento endodônticos podem estar relacionados diretamente
com o aparecimento de cancro noutros órgãos do organismo. Quem
está por dentro, como nós profissionais na área da medicina dentária rapidamente
percebe o lobby da indústria que está por trás desta informação
retorcida para que na cabeça de cada paciente se forme a ideia errada que mais vale um implante de cerâmica que um dente seu ainda que desvitalizado...
O problema é que o alarmismo da opinião pública é muito fácil de
criar, sobretudo quando o que está em causa é a relação com a patologia
do século XXI, com o peso da mortalidade que o cancro tem associado.
O que está em causa é mais uma vez o lobby empresarial a sobrepor-se
à ciência com o risco de influenciar diretamente a saúde pública a curto/
médio prazo. Já a história nos foi mostrando outros exemplos, como o da
vacinação, e as consequências nefastas para a saúde pública de decisões
radicais e não fundamentadas que têm posto em risco, inclusive vidas.
Parece-me imperativo que cada um de nós com voz dentro da medicina
dentária portuguesa clarifiquemos, com os meios que estão ao nosso
alcance, desde já, esta correlação errada entre dentes desvitalizados e
cancro. Para que não sejamos absorvidos pelo peso duma opinião pública
mal esclarecida que venha à luz duma escandalosa desinformação exigir
tratamento extracionistas sob a capa duma medicina dentária biológica.
Esta é a nossa obrigação ética enquanto defensores dos melhores tratamentos
para os nossos pacientes.

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