O JornalDentistry em 2022-2-22

EDITORIAL

SOS Digital - Editorial Dra. Célia Coutinho Alves

Imaginar o salto informático/digital que a sociedade deu nestes últimos 30/40 anos é assustador. Ganhei o meu primeiro computador, um Commodore 64 de disquetes, num concurso de televisão quando tinha 11 anos. Depois apareceram os spectrum e as cassetes de jogos.

Célia Coutinho Alves , Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela

Estava já na faculdade quando comecei a ter em casa um Pentium II ligado a um moni- tor garrafal de 50 cm de profundidade. Nestes últimos 20 anos, o digital sorveu a uma velocidade alucinante o analógico, e a rapidez com que tudo acontece é culpa dessa transformação da sociedade. 

A pandemia veio abrandar-nos, presencialmente falando, mas acele- rou-nos ainda mais no online. Meio homens, meio máquinas, passamos já parte do nosso dia, em atividade profissional, ou lúdica “agarrados” a um ecrã, um teclado ou um touchscrean. Fazemos depender o nosso sucesso, o nosso bem-estar de uma série de serviços digitais e já nem pensamos muito nisso. Só quando eles nos falham, deitamos as mãos à cabeça e pés ao caminho. Falo-vos destes últimos ciberataques de que grandes empresas portuguesas têm sido alvo desde o início de 2022. E mais uma vez percebemos o quão isolados estamos e dependentes dos outros nes- ta sociedade. Dependemos digitalmente de uma forma assustadora de prestadores de serviços básicos, mission providers, como distribuidores de energia, comunicações e assistência em urgência. Se é certo que o caminho do digital já não tem volta, gostava, de qualquer forma, de deixar aqui esta reflexão. 

Quando enveredamos pelo caminho do digital não podemos abandonar o analógico. São dois caminhos paralelos e que, do meu ponto de vista, devem caminhar juntos e complementar-se. Para colocar um implante guiado por uma guia 3D produzida após planeamento digital, é preciso primeiro dominar a colocação free-hand. É preciso dominar o posicionamento clínico tridimensional e proteticamente guiado para poder planear, mas também para identificar possíveis erros na execução guiada e sobre- tudo para poder corrigir quando o planeamento e a execução guiada digi- talmente ficaram parcialmente comprometidos. Para fazer uma impressão digital duma coroa e para tornar todo o workflow digital, é preciso conhecer os determinantes do preparo analógico. Para levar a cabo um trata- mento ortodôntico com planeamento digital é preciso dominar as forças com que os dentes se movem no alvéolo. A segurança do digital exige, do meu ponto de vista, uma presença analógica. 

É sobretudo quando o digital falha que o analógico tem de ser backup. Assim fez o grupo impresa para pôr nas bancas o jornal expresso, ou manter no ar a estação de televisão sic, na semana do ciberataque. Para asse- gurar, pelo menos, as comunicações de voz essenciais, foi preciso descer ao 2G, lento e antigo, depois do ataque à rede Vodafone. 

O digital cresceu assustadoramente. É hoje alvo de ciberataques e alberga informação detalhada num lugar “dark” e sub reptício, onde se pode procurar e encontrar submundos criminosos. Desde os atentados de 2001 nos EUA que uma vasta equipa varre sistematicamente esse submundo em busca de movimentações suspeitas, de forma a prevenir ataques. E consegue. Confesso que às vezes, tenho medo. E ter medo não é sinal de fraqueza. Ter medo é estar preparado. Para o que aí vem, sem sequer o conseguirmos imaginar, quanto mais inteligentemente antecipar. O medo, nos animais, ativa o estado de prontidão para a resposta. Ou lutar, ou fugir. Saber quando escolher uma ou outra é uma tarefa difícil. No que respeita à medicina dentária, continuamos a desenvolver o seu campo digital de atuação. Sem medo. Continuamos a desenvolver competências mais diversificadas para poder chegar a mais áreas do saber e servir melhor os nossos pacientes. Mas a velocidade do digital não pode excluir a segurança do presencial. Para colocar o implante, a coroa, o aparelho ortodôntico, a velocidade do digital não pode ultrapassar a segurança do presencial. Porque por trás de cada algoritmo alucinante tem de estar um batalhão de neurónios treinados para detetar erros e pontos frágeis do sistema. Porque são os homens que operam as máquinas e não o contrário! 

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