JornalDentistry em 2023-1-21

EDITORIAL

A Magia dos recomeços

Voltamos, renovados, para um novo ano. Como eu costumo dizer: “Se não sabes por onde recomeçar, começa por dentro.”

Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia

Neste recomeço de ano novo, normalmente sentimos uma lufada de energia e de fé, (fé no sentido de acreditar), que as coisas podem melhorar, que é agora que vamos tomar aquela decisão, que este ano é que vai ser!

A viragem de ano, como que, magicamente, apaga ou silencia o que nos apoquenta e reaviva a chama da esperança. E contra isso nada. É destes pequenos resets de fé que a vontade ganha velocidade e nos impele para a frente. 

Penso que é na mudança e no movimento que reside a essência de dar propósito aos nossos dias. Aceitar que as coisas mudam, que umas vêm e outras vão, e que este movimento é o que nos mantém o sangue a circular e o coração a palpitar. Eu sei, também, que há quem não goste muito de mudanças, quem prefira as rotinas instaladas, que, por conferirem mais segurança, nos fazem despender menos energia e, por isso, contribuem para a nossa sensação de conforto interior. Mas é no movimento que a mudança gera, que novos horizontes se abrem e novas formas de fazer, de estar, e de saber se criam. Sinto que o virar do ano traz sempre esta sensação boa de acreditar que voltaremos a sentir coisas boas, mas ao mesmo tempo deixa, para aqueles que já tiveram tempo de viver algumas décadas, a nostalgia de que há outras coisas, boas, que já não voltam. Isso é o que caracteriza a mudança, afinal, a vida em si mesmo! 

Vou partilhar aqui uma história, como reflexão para este novo ano que agora começa: Havia um homem que tinha de fazer sozinho uma travessia longa e desconhecida até ao seu destino. Poucos dias depois de iniciar o caminho deparou-se com um rio. Sem saber o que fazer para o atravessar, olhou para o lado e reparou que havia canas de bambu na margem. Com elas construiu uma pequena jangada, e com ela atravessou o rio. E pensou: “Esta jangada salvou-me, ela é muito importante, vou levá-la comigo na viagem pois ainda me vai ser útil”. Mais para a frente no caminho entrou numa zona de densa floresta e com a jangada às costas era muito difícil progredir, impossível mesmo. E pensou: “Tenho de deixar para trás a jangada que me salvou, pois com ela não consigo progredir. Agora já sei como atravessar o rio, e se precisar volto a fazer outra.” A assim fez. 

Daqui concluí que nem todas as coisas que outrora já nos foram importantes temos de carregar para a frente. Apenas a sabedoria que delas retiramos nos servirá para fazer de novo ou fazer melhor. Os ensinamentos que retiramos de cada ano são o que de mais útil levaremos para os anos seguintes. Deste ano que findou alguns ensinamentos foram ficando. A saúde é, realmente, o mais importante. A física e a mental. Para elas contribuem de forma decisiva os nossos hábitos, as relações pessoais e profissionais que nos estão próximas e as escolhas que fazemos (as barreiras de proteção das quais não levantamos guarda). Quando conseguimos mover- -nos em torno de bons laços relacionais, pessoais e profissionais, isso é o garante da estabilidade e serenidade necessárias ao processo constante de criação de bem-estar, primeiro em nós e depois nos outros. Mas há uma verdade inabalável e crua. Temos sempre de cuidar primeiro de nós, antes de cuidar do outro. E admitir isso não é um ato de egoísmo, é antes de mais um ato de coragem e de respeito pelos outros que se relacionam connosco. Sejam eles família, amigos, colegas ou pacientes. 

Vivemos numa sociedade de capas. O que importa é o que mostramos na capa, na selfie, no sorriso permanente com que nos mascaramos. E já o ditado popular inglês o diz: ”Never judge a book by its cover” – a capa dum livro pode não dizer muito ou mesmo nada sobre o conteúdo. Assim somos nós. E quanto mais desfasados andarmos entre o que somos e daquilo que nos mascaramos, mais tristes e sem propósito nos sentire- mos. Que este 2023 seja um ano de propósitos. Porque a esperança de cada ano que começa encerra em si a possibilidade mágica de escolher- mos dar-lhe o propósito que quisermos! 

 

Por: Célia Coutinho Alves , Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela 

 

 

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