JornalDentistry em 2023-9-19

EDITORIAL

O tempo certo das respostas

Começo por desejar um bom regresso de férias a todos os que nos leem. Há quem diga que esta pausa sagrada no ano é essencial para transformar as nossas reações em respostas.

Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia

 A maioria de nós, mesmo gostando muito do que fazemos profissionalmente, chegámos às últimas semanas antes das férias com o corpo e a mente cansados e por isso reativos.

Já reagimos por instinto ou impulso aos desafios do dia-a-dia, a mente recusa-se a tomar decisões difíceis e o corpo a prolongar-se em horas extra de consultório, computador ou reuniões zoom. Por isso, as férias, essa pausa sagrada no ano, permite-nos sossegar o corpo e a mente e faz a magia de nos trazer aos tempos de reatividade normais: os das respostas. Quando respondemos em vez de reagirmos, somos mais assertivos e mais empáticos. 

É também o tempo de planear o novo ano letivo/laboral. De agitar as águas. De nos voltar a pôr à prova e a sair da zona de conforto. Goethe ensinou-nos: “Trate um homem como ele é, e ele continuará a ser como ele é. Trate-o como ele pode e deve ser, e ele tornar-se-á como pode e deve ser”. A verdade é, que depois da energia renovada, há que traçar novas metas, novos desafios. A estagnação não pode ser para aqueles que prestam um serviço ao outro. Há que perseguir aquilo que podemos ser. Nas férias, parar para afinar o instrumento. No trabalho, treinar, treinar, treinar até que dominemos o instrumento e teremos dele o melhor em benefício dos nossos pacientes. 

Crescer é o mesmo que tomar decisões. Tomar decisões é a forma de não nos acomodarmos. Deixamos para “depois das férias” a possibilidade de voltar a pensar “a sério” para resolver ou decidir situações com que nos deparamos. De facto, quando somos crianças, somos seres dependentes, mas almejamos tornar-nos rapidamente independentes. E pensamos que ser independentes é a forma mais segura de ser e de estar. Mas, na verdade, o que nos tornamos, quando crescemos, também profissionalmente é seres interdependentes. Dependemos sempre de outros serviços, estrutu- ras, pessoas. Tomar decisões certeiras que oleiem esta interdependência é verdadeiramente diferenciador. E setembro é o mês certo para as fazer. 

Descansados, revitalizados. Com o tempo certo das respostas. Porque as decisões vão ter de ser feitas de qualquer forma e se não formos nós a fazê-las alguém, a sociedade, as fará por nós. Com prejuízo dos resultados poderem não ser os que necessitávamos ou ambicionávamos. 

Com a perspetiva de a inteligência artificial vir a restruturar 25% dos trabalhos que desempenhamos nos próximos dez anos, o médico dentista não pode deixar de acompanhar o processo. Até para o depurar. Para separar o trigo do joio e trazer para os consultórios aquilo que beneficia efetivamente o paciente e o nosso desempenho enquanto prestadores de cuidados de saúde. Mas antecipo que vem aí um período de decisões difíceis. Decisões entre incorporar positivamente a inteligência artificial que rapidamente estará ao dispor da nossa área, e a reserva em fazê-lo antes da prova provada de que, se o fizermos, estaremos a ser melhores prestadores de serviço de saúde. Continuo a acreditar que trabalhar na área da saúde é um privilégio muito grande. Pelo menos no que diz respeito a ter a oportunidade de impactar vidas, mudar sorrisos e melhorar a qualidade de vida daqueles que nos procuram. Trabalhar na saúde é exercer a nossa interdependência duma forma missionária. O deveria ser, do meu ponto de vista. Não sei bem como essa interdependência será afetada pela inteligência artificial. Dependeremos menos dos homens, mas mais das máquinas? Será essa uma forma diferente de interdependência? Ou voltaremos à dependência total, não do adulto, mas do computador? Não sei responder, mas sei que vou ter de decidir rapidamente como ser interdependente com outro tipo de inteligência. E esta, temo que nunca reaja, só responda. Ponderada e assertivamente. Sem tirar férias. Bom regresso! 

 

Célia Coutinho Alves, Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela 


 

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