Crónica de Fernando Arrobas

A ‘DENTADURA’ DE LEONARDO DA VINCI

Foi o pensamento e o espírito geral da Era Renascentista que favoreceu a evolução dos estudos anatómicos, anteriormente começados pelos gregos. Entre várias figuras que, à época, se dedicaram ao estudo do corpo humano, alguns dos nomes mais sonantes foram os de Rafael, Michelangelo, Andreas Vesalius e Leonardo da Vinci.

Fernando Arrobas

Leonardo da Vinci, considerado como um dos grandes génios da história da cultura ocidental, foi pintor, arquiteto, engenheiro, cientista e escultor. Num processo brilhante de cruzamento entre ciência e arte, são impressionantes os seus estudos científicos e criações, que ficaram registados nos seus cadernos com mais de 13 000 páginas de notas e desenhos.
Entre os mais de 1200 esboços de anatomia e as mais de 215 gravuras, encontram-se referências à dentição humana, aos ossos maxilares, a estudos cefalométricos e às consequências na estética facial das perdas dentárias. Inclusivamente, observando e analisando com a devida atenção, pode-se suspeitar que o próprio padeceria de uma condição de desdentação aquando do seu último auto-retrato.
No conhecido desenho a sanguínea, notam-se claramente as características típicas da desdentação: a marcação dos sulcos naso-genianos, a ausência de filtro labial, as comissuras labiais invertidas, redução da dimensão vertical, com o terço inferior da face diminuído e um prognatismo relativo, embora a barba ajude a disfarçar.

No entanto, parece-me consensual afirmar que todos os seus estudos anatómicos e de biomecânica em muito contribuíram para que, um pouco mais de um século depois, Pierre Fauchard e outros iluministas, considerados os pais da medicina dentária moderna, desenvolvessem os princípios fundamentais de um instrumento fulcral para a qualidade de vida de todos: a disciplina de prótese dentária.